
Minha mãe tinha como atividade cuidar do lar e dos filhos. Nasceu na região do Vale do Rio Doce, Minas Gerais e veio para Belo Horizonte na adolescência. Estudou até a quarta série e apresentava uma criatividade inspiradora. Costurava bonecas de pano para mim , ensinava-me cantigas de roda e cantos populares, me incentivava a explorar e brincar com tudo: pedras, barro, galhos, tocos de madeira, retalhos de tecido... Eu passava meses de férias na fazenda em que meu vô trabalhava , na cidade de Matias Barbosa . Fazíamos bonecas de sabugo de milho, colares com "Lágrimas de Nossa-Senhora ", desenhávamos com barro e carvão. Á noite eu escrevia poemas no papel de pão à luz das lamparinas, ouvindo Luiz Gonzaga no toca fita à pilhas.
Estudei toda a Educação Básica no Colégio Frei Orlando, escola da ordem Franciscana. Sempre tive notas boas, embora fosse muito agitada para os padrões escolares. Adorava dançar nas Feiras de Cultura, declamar nos jograis , criar peças teatrais para apresentar trabalhos, fazer maquetes e cartazes. A aula de Arte não era minha favorita, detestava colorir padrões geométricos e ampliar desenhos. Lembro-me que aprendi a fazer dobradura de barco de papel e borboleta com recorte de revista. As aulas de Literatura eram minhas favoritas, recordo-me com muito carinho do professor Wenceslau Coimbra . Vi filmes importantíssimos, como "bebê de Rosimary" de Roman Polanski. Além disso, ele falava de todo o contexto das Artes , falava de Arquitetura, Teatro , Artes Visuais.
Decidi ser professora . Não sabia de quê. Pensei em cursar Letras ou Artes Visuais. Como minha tia era pedagoga e professora no CEFET-MG , pensei então na possibilidade de cursar Pedagogia, porque segundo minha família eu poderia dar aula de tudo. E assim o fiz. Entrei para o curso de Pedagogia da UFMG em 2003. Por muitas vezes pensei em cursar paralelamente algo na área de Artes Visuais, como minha colega Milene , que estudava artes plásticas na Guignard e Pedagogia na UFMG. No entanto, eu precisava trabalhar e pagar minhas despesas, não podia estudar o dia inteiro. Decidi que assim que concluísse o curso, faria uma pós-graduação em Arte Educação. Adiantei então meu curso em 6 meses, fazendo disciplinas nos horários vagos. Ao final de 2006 concluí o curso, e fiz minha inscrição para uma pós-graduação que abrira na UEMG , Ensino e Pesquisa no Campo da Arte e da Cultura . Logo me informaram que teria que fazer uma prova escrita e depois uma entrevista. Fiquei muito preocupada, achei que era muita exigência para uma especialização e eu não era da área artística. Além disso, na graduação em Pedagogia ainda não havia uma disciplina sequer voltada ao ensino de Arte. No entanto, consegui ser aprovada para o curso. E afirmo que foi uma experiência importantíssima para minha trajetória profissional. No ano de 2007, além de iniciar a pós-graduação, também fui efetivada na Prefeitura Municipal de Contagem como Professora da Educação Básica I. Coincidência ou não, assumi uma vaga na Educação Infantil, como professora de Arte. Assim, consegui ir construindo pouco a pouco um diálogo entre a prática e a teoria. Conheci os estudos sobre Reggio Emilia que, de certa forma , me levaram a pesquisar e a experimentar novas possibilidades para o ensino de Arte na Educação Infantil.
Em 2011, iniciei a graduação em Artes Visuais na Escola Guignard -UEMG . Desenvolvi pesquisa no estudo da performance arte com algumas colegas e criamos o coletivo "As 3 graças" . Também já estava desenvolvendo alguns estudos em vídeo arte e logo comecei a participar de algumas pequenas mostras. Em 2012, tornei-me mãe do Miguel, realizei trabalhos em gestão cultural produzindo o Festival MoveMundo de Cinema e Vídeo e o Festival Nenhum dos Mundos de Performance Urbana. Tudo isso paralelamente à minha carreira como professora.
Alguns conflitos começavam a emergir : como articular docência, produção artística , maternidade e gestão cultural?
Estava vivendo um período conturbado na Educação Infantil, pois o então prefeito Carlin Moura, sancionou uma lei que criava o cargo de Professor da Educação Infantil de 40 hs e assim transferiria os Professores da Educação Básica I que estavam na E.I. para unidades de Ensino Fundamental .
Como sempre me vi na Educação Infantil e acreditava no trabalho que eu desenvolvia, cheguei a optar por abandonar a docência caso fosse transferida. Mas em 2014 ingressei para o Mestrado Profissional em Artes - Programa PROFARTES e, apesar de não ter a licenciatura em área artística fui muito bem acolhida por todos os envolvidos : professores, minha orientadora Dra. Lúcia Pimentel, meus colegas e amigos do PROFARTES.
Comecei a trilhar outros caminhos a partir do desenvolvimento da minha pesquisa , em que pude articular minha produção artística, com minha prática docente e a pesquisa. Fui transferida para uma Escola de Ensino Fundamental, mas que, por ironia do destino, possui 5 turmas de Educação Infantil. Sendo assim, continuo com meus pequenos, amando o que faço.
Quem sou eu? Sou Lígia Moraes, mãe do Miguel, irmã do Guilherme, filha de Nair e Eustáquio, tenho 3 gatos, sou feminista, esquerdista, professora, artista, pesquisadora, gestora cultural, escorpiana com ascendente em peixes, curiosa , inquieta, chorona, e apaixonada pelo mistério da vida....
Olá Ligia! Sou mestranda do Mestrado profissional de Arte do IFCE (Ceará). Estou lendo sua pesquisa de mestrado. Empolgante! Leitura prazerosa, motivadora... Parabéns! Arte é resistência!
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