segunda-feira, 6 de junho de 2016

Performance Art na Educação Infantil






O corpo humano, desde a antiguidade é  representado  nas manifestações artísticas e religiosas  seja por meio do desenho, da pintura ou da escultura. No entanto, a partir da década de cinquenta, nos movimentos artísticos da body art e da performance , o Corpo passa a se apresentar como expressão de si mesmo, transpondo o conceito de corpo  iconográfico para corpo/obra de arte.
A performance emerge na Arte contemporânea como possibilidade de  expressão artística. Nesse contexto, o corpo é híbrido,  repleto de possibilidades: contesta tabus, enfrenta seus próprios limites e se manifesta como forma de resistência e  prática política.   Para Medeiros (2009):
O que denominamos performance é arte, isto é, voluntariamente ato que visa revelar o outro do mundo sensível e, assim fazendo, criar faíscas de sensível inteligibilidade, entre seres humanos. Inteligibilidade sensível entendida sempre como faísca: pedaços desgarrados de compreensão redimensionável. E o sensível inteligente como aquilo que perdura. A sensação é aquilo que dura (DELEUZE; GUATTARI, 1991). A percepção é aquilo que nos deixa abertos ao mundo. A performance quer tocar a percepção e ser guardada como sensação acariciada por alguma busca de compreensão. (MEDEIROS, 2009, p.23)

Refletindo sobre a performance arte  na arte/educação contemporâneas,  percebe-se a potencialidade plástica,  poética, cognoscível e política desta nos processos de ensino/aprendizagem. A performance se apresenta como um espaço fluido de experimentação , interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, pois atravessa diversas questões, como etnia, gênero, política, cultura e subjetividade.
Machado (2010), em A criança é  performer desenvolve  um estudo antropológico da infância sob a perspectiva sociológica de Manuel Sarmento em que  se considera a criança como   “ator social” e “protagonista” , capaz de compartilhar um mesmo mundo que os adultos , porém com sua própria visão e interpretação.
 Segundo  a autora  em  seus vinte anos de docência  e convivência com crianças de 5 a 6 anos de idade pode observar que quando era oferecido  um ambiente  composto  por contextos  sensíveis (como instalações em Arte Contemporânea) , essas crianças manifestavam de inúmeras formas expressivas seus modos de ser e estar no mundo. Assim percebe-se  uma plasticidade e um polimorfismo naturais nas culturas da infância.
Tais considerações vão de encontro às experiências que vivenciei e observei  junto a um grupo de crianças de 5 anos de idade em um Cemei de Contagem:

(...) Luan enrolou um tecido vermelho em volta do corpo, como uma espécie de túnica. Amarrou uma faixa na cintura e outra na testa, prendendo um tecido comprido e amarelo na cabeça, simulando um cabelo. Colocou vários tecidos dentro da túnica, como se possuísse uma barriga grande. Logo essa imagem gerou provocações. Outras crianças questionaram se ele usava um vestido, se ele era uma noiva ou coisa do tipo. A criança ignorando os comentários prosseguiu, caminhou pelo pátio do Cemei, representando essa figura que ele mesmo criou. A diretora, observando a criança  tão camuflada entre tecidos e amarrações,  riu e perguntou curiosa, quase que exclamando,  “Luan , você é um rei?!” Luan disse: “Não, eu sou um feiticeiro!” Ela insistiu: “Mas , e esse barrigão?” Luan : “É que eu tô grávido”. (relatório, diário de bordo, Maio  2014)

Nesse contexto as crianças puderam integrar corpo, espaço, tempo e elementos plásticos.  A subjetividade de cada criança pôde se manifestar em seus movimentos e em suas escolhas diante dos materiais apresentados.  Além disso, exerceram uma postura imaginativa, percebendo  seu próprio corpo como elemento simbólico, polimórfico e  transformador. Cada sujeito criou o seu plano imaginário, ora interagindo com as demais crianças, ora em seu próprio momento consigo mesmo. Dado que a performance permite um fluxo entre  arte e  vida, as crianças nessa experimentação expressaram o que há de mais significativo em suas vidas, a própria infância.






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