O corpo humano, desde a antiguidade
é representado nas manifestações artísticas e
religiosas seja por meio do desenho, da
pintura ou da escultura. No entanto, a partir da década de cinquenta, nos
movimentos artísticos da body art e
da performance , o Corpo passa a se
apresentar como expressão de si mesmo, transpondo o conceito de corpo iconográfico para corpo/obra de arte.
A performance emerge na Arte
contemporânea como possibilidade de
expressão artística. Nesse contexto, o corpo é híbrido, repleto de possibilidades: contesta tabus,
enfrenta seus próprios limites e se manifesta como forma de resistência e prática política. Para Medeiros (2009):
O
que denominamos performance é arte, isto é, voluntariamente ato que visa
revelar o outro do mundo sensível e, assim fazendo, criar faíscas de sensível
inteligibilidade, entre seres humanos. Inteligibilidade sensível entendida
sempre como faísca: pedaços desgarrados de compreensão redimensionável. E o
sensível inteligente como aquilo que perdura. A sensação é aquilo que dura
(DELEUZE; GUATTARI, 1991). A percepção é aquilo que nos deixa abertos ao mundo.
A performance quer tocar a percepção e ser guardada como sensação acariciada
por alguma busca de compreensão. (MEDEIROS, 2009, p.23)
Refletindo sobre a performance arte na arte/educação contemporâneas, percebe-se a potencialidade plástica, poética, cognoscível e política desta nos
processos de ensino/aprendizagem. A performance se apresenta como um espaço
fluido de experimentação , interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, pois
atravessa diversas questões, como etnia, gênero, política, cultura e
subjetividade.
Machado (2010), em A criança é
performer desenvolve um
estudo antropológico da infância sob a perspectiva sociológica de Manuel
Sarmento em que se considera a criança
como “ator social” e “protagonista” , capaz
de compartilhar um mesmo mundo que os adultos , porém com sua própria visão e
interpretação.
Segundo
a autora em seus vinte anos de docência e convivência com crianças de 5 a 6 anos de
idade pode observar que quando era oferecido
um ambiente composto por contextos
sensíveis (como instalações em Arte Contemporânea) , essas crianças
manifestavam de inúmeras formas expressivas seus modos de ser e estar no mundo.
Assim percebe-se uma plasticidade e um
polimorfismo naturais nas culturas da infância.
Tais considerações vão de encontro
às experiências que vivenciei e observei
junto a um grupo de crianças de 5 anos de idade em um Cemei de Contagem:
(...) Luan enrolou um tecido
vermelho em volta do corpo, como uma espécie de túnica. Amarrou uma faixa na
cintura e outra na testa, prendendo um tecido comprido e amarelo na cabeça,
simulando um cabelo. Colocou vários tecidos dentro da túnica, como se possuísse
uma barriga grande. Logo essa imagem gerou provocações. Outras crianças
questionaram se ele usava um vestido, se ele era uma noiva ou coisa do tipo. A
criança ignorando os comentários prosseguiu, caminhou pelo pátio do Cemei,
representando essa figura que ele mesmo criou. A diretora, observando a criança tão camuflada entre tecidos e amarrações, riu e perguntou curiosa, quase que
exclamando, “Luan , você é um rei?!”
Luan disse: “Não, eu sou um feiticeiro!” Ela insistiu: “Mas , e esse barrigão?”
Luan : “É que eu tô grávido”. (relatório, diário de bordo, Maio 2014)
Nesse contexto as crianças puderam
integrar corpo, espaço, tempo e elementos plásticos. A subjetividade de cada criança pôde se
manifestar em seus movimentos e em suas escolhas diante dos materiais
apresentados. Além disso, exerceram uma
postura imaginativa, percebendo seu
próprio corpo como elemento simbólico, polimórfico e transformador. Cada sujeito criou o seu plano
imaginário, ora interagindo com as demais crianças, ora em seu próprio momento
consigo mesmo. Dado que a performance permite um fluxo entre arte e
vida, as crianças nessa experimentação expressaram o que há de mais
significativo em suas vidas, a própria infância.
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